terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

PINHEIRINHO VIVE ESTADO DE EXCEÇÃO






No último sábado, retornei à São José dos Campos para seguir o trabalho de realização das oitivas de testemunhas do povo expulso do bairro Pinheirinho junto com companheiros dos Advogados Progressistas, da Comissão Estadual de Blogueiros Progressistas do Estado de São Paulo, do CONDEPE (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – SP) e voluntários.

O grupo somou 25 pessoas que se deslocaram da capital a São José dos Campos. Foi possível ouvir mais 108 desabrigados que afirmaram graves denúncias de violência da PM de São Paulo e da Guarda Civil  Municipal. Eles se juntam aos mais de 500 ouvidos na semana passada e reforçam a absurda atuação do Estado no cumprimento de uma ordem judicial de desocupação do bairro. Um episódio criminoso que nos remete ao sombrio período da ditadura!

As famílias têm sido orientadas a procurar a Defensoria Pública de São José dos Campos e isso está ocorrendo. No sábado, houve atendimento a cerca de 200 desabrigados que relataram o massacre sofrido.

No período da manhã, o trabalho de ouvir e anotar os depoimentos seguiu normalmente até que por volta das 14 horas, este sujo blogueiro recebeu o pedido da Sra. Osorina Ferreira de Souza para que a acompanhasse até o hospital municipal onde ela havia descoberto, no dia anterior (sexta-feira), que lá se encontrava internado o seu ex-compaheiro  e  morador de Pinheirinho Ivo Teles dos Santos de 69 anos de idade, desaparecido até aquele momento.
O caso do desaparecimento do Sr. Ivo me chamou atenção desde o primeiro dia em que cheguei a São José (domingo da semana passada) porque era quase unânime entre os desabrigados os testemunhos de que ele havia sido espancado, colocado em uma viatura da PM e desaparecido. Ivo é muito conhecido no Pinheirinho, assim como a Sra. Osorina que foi uma das primeiras moradoras daquele bairro.
Osorina, que além de perder a sua casa, seus pertences e hoje estar jogada dentro de um container junto  com seus familiares e com mais cinco famílias, naturalmente revoltada com toda a situação, fazia questão de que o caso fosse denunciado uma vez que todos procuraram por ele desde a invasão da PM no bairro, questonaram a direção do Hospital Municipal de São José dos Campos e a Prefeitura da cidade e ambos afirmaram que nenhum ferido do Pinheirinho havia dado entrada no hospital. Com a descoberta, fica claro que se tratou de mais uma mentira dos poderes municipal  e estadual (ambas administrações do PSDB) para reforçar a afirmação mentirosa de que não houve violência ou feridos naquele sangrento domingo (22/01).

Segui com ela e outras companheiras ao hospital e verificamos que havia dificuldade em ter acesso ao paciente Ivo. Segundo Osorina que conseguiu vê-lo no dia anterior, ele está internado na UTI com o lado direito do corpo paralisado e sem conseguir falar. Ela contou que não teve acesso ao prontuário médico e que uma enfermeira afirmou a ela, rapidamente, que ele teria sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Com a descoberta do seu paradeiro, imprensa, vereadores da cidade, Antonio Donizete Ferreira (o Toninho) um dos advogados dos ex-moradores do Pinheirinho, o deputado Adriano Diogo (PT - SP) e representantes do CONDEPE e da Comissão de Direitos Humanos da OAB, chegavam ao hospital para que a situação fosse esclarecida.
Apenas às 19 horas foi entregue um relatório assinado pelo médico de plantão, doutor Luis Carlos Nacácio e Silva, CRM 70-867. O relatório (abaixo) informa que o paciente deu entrada no dia 22 de janeiro, às 18h30, com AVCH (acidente vascular cerebral hemorrágico). Ou seja, o Sr. Ivo estava esquecido na UTI daquele hospital desde o fatídico dia da invasão no bairro.


Ocorre que o relatório apenas afirma um problema de saúde que pode não ter sido causado pelas agressões sofridas pelo ex-morador e apenas por isso que o hospital cedeu o mesmo. O médico responsável pela unidade hospitalar, assim como o PIG e o Estado tentam vender a ideia de que o fato não tem relação com as agressões sofridas pelo paciente.

É necessário obrigar judicialmente a entrega do Boletim de Atendimento de Urgência (BAU) que necessariamente precisa ter registrado o estado geral de saúde do paciente assim que ele foi recebido pelo hospital, incluindo agressões e/ou perfurações pelo corpo.

O que fica claro em mais essa passagem lamentável, como se o ocorrido em Pinheirinho não fosse o suficiente, é que a ação da PM do PSDB foi desastrosa, descontrolada, despreparada e criminosa e que além de devastarem o bairro e a vida de milhares de famílias houve muita agressão (de inúmeras tipificações) que estão tentando esconder.

A hipocrisia da prefeitura assassina

Ainda existe a denúncia da maioria dos desabrigados que duas moradoras continuam desaparecidas e as autoridades da cidade afirmam que isso não procede e que, assim como no caso do Sr. Ivo, não há registro de entrada de feridos(as) em hospitais.

Os Advogados Progressistas continuam acompanhando o caso e devemos retornar a São José dos Campos no próximo sábado. Além disso, continuamos recebendo doações, em especial, de produtos de higiene pessoal e fraldas infantis no endereço: Lgo Pólvora, 141 - Liberdade - São Paulo, aos cuidados de Ellen.

É fundamental seguir apoiando o povo de Pinheirinho até que os criminosos travestidos de representantes do Estado e do Judiciário sejam devidamente punidos.

Somos todos Pinheirinho!

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